quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Marina Silva cresce, mas permanece incerta sua sustentação

As pesquisas eleitorais mais recentes mostram Marina Silva ascendendo a 29% das intensões de voto no primeiro turno, enquanto Aécio Neves fica estacionado em 19% e Dilma caiu 38% para 34%. No segundo turno, Marina ameaça ganhar com 45%, contra 36% de Dilma. Mas são muitas as incertezas que pairam sobre o grau de sustentação que terá essa tendência.

O fenômeno Marina transcende a morte de Campos


Eduardo Campos, candidato a presidente na chapa em que Marina ocupava a posição de vice, não conseguia ultrapassar os 8% nas pesquisas eleitorais. Logo depois de sua morte, as primeiras pesquisas já apontaram Marina Silva com 21% dos votos, tecnicamente empatada com os 20% Aécio Neves, o outro candidato opositor ao governo. Entretanto, muitos analistas consideravam que as intensões de voto em Marina estavam artificialmente infladas por sua alta exposição midiática. Apoiavam-se no fato de que a morte de Eduardo Campos lhe colocou no centro de um tema de grande comoção nacional, e que isso tenderia a refluir.

Corroborava com essa opinião a análise de que Marina não conseguiria “resistir” à competição aberta pelo horário gratuito de TV que ainda estava por começar. Enquanto o PT de Dilma tem onze minutos diariamente e o PSDB de Aécio neves tem quatro, Marina teria apenas dois minutos de exposição.

Ainda que estejamos no início da campanha e tanto Dilma como Aécio ainda não deflagraram uma ofensiva de “desconstrução” da imagem de Marina, a s últimas pesquisas apontam indícios que contrariam essas duas teses. Até agora, Marina retomou – e em certo sentido superou – os patamares eleitorais que tinha nas pesquisas de 2013, quando ainda não estava definido se seria ela ou Eduardo Campos a cabeça de chapa do PSB.

O que está por trás da ascensão de Marina?


A degradação das condições econômicas e o desgaste das instituições e partidos dominantes explicam os primeiros sinais de fadiga da estratégia adotada pela campanha eleitoral de Dilma, que busca apoiar-se nas melhorias das condições de vida dos últimos anos de crescimento econômico. Por mais que os níveis de desemprego permaneçam historicamente baixos, já se começa a sentir os efeitos da crise, com demissões e suspensões de contratos de trabalho em vários ramos da indústria. Por outro lado, os trabalhadores veem sentindo as consequências de uma inflação crescente, sobretudo dos produtos essenciais à classe trabalhadora, e de uma maior dificuldade em obter aumentos salariais.

Para além dos votos que migraram de Dilma e de Aécio, Marina também atraiu os votos brancos, nulos e indecisos, que vinham apresentando índices recordes e caíram vertiginosamente depois que ela entrou na disputa. Dentre esses votos existem tanto setores de classe média que historicamente se constituíram como base social do PSDB como setores de jovens e trabalhadores que votaram no PT nas eleições anteriores. São setores que por agora acreditam no discurso da “nova política” propagado pela candidata ou a veem como um “mal menor” diante do PT ou do PSDB. Aparentemente, esse é um resultado de sua trajetória política, combinada com sua origem humilde, que aparece para as massas como digna de confiança e faz com que alguns analistas a chamem de “Lula de saias”.

Por mais que Aécio Neves tente se mostrar como também portador de uma “nova política”, por mais que tente esconder a prática privatista e antipopular pela qual historicamente é conhecido o PSDB, este tem mostrado mais dificuldade para capitalizar o descontentamento com o PT entre jovens e trabalhadores, seja pelo seu perfil empresário ou pela trajetória do seu partido. Dentre os níveis de rejeição expressos nas pesquisas, que indicam o potencial de crescimento de cada candidato, Marina apresenta 10%, contra 18% de Aécio e 36% de Dilma.

O potencial que a candidatura de Marina Silva tem mostrado até agora se apoia na sua capacidade de atrair um voto que transcende a base histórica do PSDB no primeiro turno e, num segundo turno, atrai os votos do eleitorado mais à direita que tradicionalmente apoia os tucanos. As pesquisas indicam que Aécio não teria a mesma capacidade de atrair os votos de seus adversários.  

Uma “nova política” cada vez mais velha


Para ganhar a confiança dos grandes empresários e investidores financeiros, já desde as eleições de 2010, Marina defendia as reformas neoliberais das leis trabalhistas e da aposentadoria. Agora, saiu em defesa das bases macroeconômicas assentadas pelo governo Fernando Henrique e continuadas nos governos do PT; e está defendendo a implementação de uma lei que dê maior autonomia ao Banco Central para gerir a política econômica.

Tentando dissipar a imagem de que seu governo, em função de uma suposta defesa do meio ambiente, será disfuncional ao agronegócio, a candidata “verde” tem feito questão afirmar que enquanto foi ministra de Lula viabilizou as licenças ambientais de algumas das obras de maior impacto ecológico.

Em busca de atrair os votos de setores religiosos, que compõem a boa parte dos setores mais pobres da população que foram beneficiados com os programas de assistência social que deram popularidade ao PT, Marina tem defendido posturas abertamente reacionárias em relação a questões democráticas elementares como o direito ao aborto, o casamento homossexual e a legalização da maconha.

Com o intuito de mostrar-se como um governo “viável”, Marina tem explicado que sua “nova politica” incluirá os “melhores quadros” tanto do PSDB como do PT, incluindo figuras tão pouco “novas” como o ex candidato a presidente e ex-governador de São Paulo, José Serra.

Ou seja, aspectos chaves do próprio discurso de Marina se contradizem com a imagem que ela tenta vender como portadora de uma “nova forma de fazer política”, podendo levar ao afastamento de setores que num primeiro momento depositaram nela a expectativa de uma “terceira via”. Já no primeiro debate televisivo entre os candidatos essa realidade se evidenciou, pois o principal “fenômeno” de internet durante o mesmo não foi Marina e sim Eduardo Jorge, do Partido Verde, que defendeu o direito ao aborto e a legalização da maconha.

Longe de estar consolidada, a atual trajetória ascendente de Marina Silva está repleta de incógnitas. A “flexibilidade” dos votos que ela atrai, vindo tanto de setores petistas como tucanos, é também sua maior debilidade, já que são votos “fluidos”, que podem migrar novamente frente aos embates da campanha. Nas próximas semanas verificaremos sua capacidade de resistir ao esforço de “desconstrução” de sua imagem que será feito tanto pelo PSDB como pelo PT.

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