sábado, 20 de setembro de 2014

Diálogo sobre a greve dos trabalhadores da USP e as eleições

Canteiro de obras no Butantã. Meio-fio. Rádio chiando. Abre a marmita fria. Ovo com arroz e feijão. Cheiro gostoso.

– Me dá um pedaço do seu torresmo?

No rádio Dilma diz que Marina vai acabar com o Bolsa Família.

– Cê acredita nisso?
– Sei lá. Essa Dilma também num me desce. Mas vai que essa Marina tira até o pouco que agente tem.

Silêncio.

– Viu que acabou a greve na USP?
– Vi. Tenho um vizinho que trabalha lá. Tava feliz da vida. Comemorando.
– Agente tinha que fazer igual a eles. Esse ano o aumento foi bem menor que no ano passado. Como é que eles fizeram pra ganhar?
– São muito unidos. E têm um sindicato que tá do lado deles. Pra tudo eles tem reunião, assembleia.

No rádio Aécio Neves diz que sua prioridade vai ser a educação.

– Aff. É sempre a mesma história.
– Meu vizinho disse que a greve deles não era só pelo salário. Que era por saúde e educação também.
– É? Como? Eu vi mesmo o governador na TV falando não sei o que pra eles sobre o hospital lá da USP.
– Não sei. Parece que tavam tentando privatizar a universidade e o hospital e a greve era pra impedir isso também.

No rádio Marina Silva diz que representa o desejo de mudança das manifestações de junho de 2013.

– Eita. Essa mentira passa longe dos protestos. O que parece com aqueles protestos é isso aí que cê tá falando. Já pensou? Várias greves juntas pra conseguir a melhoria dos salários, da saúde, da educação?
– É. Mas pra agente poder fazer parte disso tem que expulsar esses pelegos do nosso sindicato e fazer igual eles lá na USP.

No rádio Zé Maria defende o fim do pagamento da dívida pública para investir em saúde e educação e um governo dos trabalhadores sem patrões.

– Esse aí não tem nenhuma chance de ganhar. Ele não diz que pra isso tem ser pelo caminho dos trabalhadores da USP. Mas vou votar nele porque ele fala contra os patrões.
– Se esse Brandão lá do sindicato da USP fosse candidato eu votava nele.
– Opa. Aí sim.
– Eles me chamaram pra ir na casa do meu vizinho. Querem fundar um movimento pra fazer igual fizeram na USP em vários lugares. Pra ir além.

Toca a sirene do final do almoço.

– É? Mas eles querem ser políticos?
– Eu não entendi direito. Parece que é um tipo de política diferente. Eles dizem que o hospital e as escolas sejam controlados pelos funcionários junto com agente da comunidade.
– Och...
– Dizem que a sociedade funcione igual eles funcionaram na greve. Agente elege o representante numa assembleia, e se ele não servir derruba e elege outro. E todo representante teria que receber o salário igual ao de um professor.

O rádio desliga e a estaca começa a bater.

– Eu queria ir com você. Se num tiver problema. Acho que minha esposa vai querer ir também. Lá na fábrica que ela trabalha tão querendo demitir muita gente. O pessoal tá puto e quer lutar.

Um grito à distância pergunta:

– Como é que chama esse movimento?
– É... ele me disse... Acho que chama Movimento Nossa Classe.



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